Quando orgasmo deixa de ser um prazer e se torna uma doença
“Tenho orgasmos o dia inteiro!”
A frase acima pode soar como a realização de uma fantasia sexual, mas a excitação constante foi um pesadelo real na vida de uma mulher de 35 anos.
Depoimento a Stephane Booth.
“Há dois anos, eu estava sentada em minha mesa, no escritório de advocacia onde trabalho, quando senti uma coceira em todo o lado esquerdo do meu corpo: na palma da mão, nas unhas e até na sola dos pés. Em minutos, a sensação chegou à vagina. E lá a comichão se tornou dolorosamente intensa. Senti como se algo estivesse debaixo da minha pele, tentando sair. Pensei que a coceira estava relacionada ao stress. Mas aquilo piorou depois que cheguei em casa. Embora eu não estivesse sexualmente excitada, minha vagina não parava de pulsar. Eu não queria ter um orgasmo, mas sentia como se eu tivesse que ter um. Assim que consegui, a coceira desapareceu. Horas depois, ela voltou. Pensando que poderia ser uma reação alérgica, tomei um antialérgico. Mas não ajudou. Como havia acontecido antes, a comichão começou na mão e no pé esquerdo. Em poucos segundos foi para os lábios da vagina e para o clitóris. Um orgasmo foi a única coisa que me deu alívio temporário.
Durante as três semanas seguintes, a sensação continuava a me acordar no meio da noite. Tentei manter o foco no trabalho, mas eu estava sempre correndo até o banheiro ou me contraindo atrás da mesa em busca de alívio. Conseguia resolver a questão em poucos minutos, mas era muito estressante – estava sempre com medo de ser flagrada! No meu pior dia, tive 24 orgasmos em uma hora. A essa altura, eu estava exausta. Quase imediatamente após o começo dos sintomas, eu contei o que estava acontecendo a alguns amigos. No começo, eles fizeram piadas. Mas quando expliquei que nunca me senti sexualmente excitada, apenas dolorosamente “sarnenta”, eles concordaram que deveria ter algo muito errado comigo.
Dei uma busca na internet sobre meus sintomas. Descobri que eles combinavam com o transtorno da excitação genital persistente (TEGP), um raro tipo de disfunção sexual que atinge alguns milhares de mulheres. Marquei uma consulta com minha médica da área de clínica-geral, mas ela nunca tinha ouvido falar do TEGP. Meu ginecologista foi um pouco mais útil. Mas não sabia o bastante para me diagnosticar ou me tratar. Por sorte, outra busca na internet me levou ao dr. Irwin Goldstein, diretor de medicina sexual do Hospital Alvarado, em San Diego, na Califórnia. Marquei uma consulta e voei da minha cidade, na Carolina do Sul, para vê-lo.
Depois de obter meu histórico médico e agendar uma bateria de exames, o dr. Goldstein me pediu para ter um orgasmo. Minha primeira reação foi: ‘Você está brincando?’ Mas eu estava determinada a conseguir algumas respostas e uma solução para o meu problema. Ele apagou as luzes e me deu um vibrador coberto por uma camisinha. Então colocou em mim um vulvoscópio, aparelho que aumenta o tamanho da vagina e permite verificar alterações enquanto eu chegava clímax. Numa tela grande de TV de plasma, o dr. Goldstein chamou a atenção para o que ele estava vendo na minha vagina. Enquanto meu cérebro me dizia que eu sentia uma excitação constante no clitóris e intumescência, os sintomas não estavam presentes fisicamente.
Ele explicou que, embora uma única causa não possa ser apontada, muitas mulheres sentem os sintomas do transtorno depois de parar de usar certos antidepressivos. Exatamente o que eu havia feito um mês antes de a coceira começar. Uma teoria é que descontinuar abruptamente essas drogas causa um desequilíbrio na neuroquímica do cérebro, que regula o reflexo sexual. Eu estava presa num estado de percepção constante da excitação sexual. Comecei a tomar remédios, inclusive um analgésico fraco. Como o stress pode exacerbar os sintomas, o dr. Goldstein me aconselhou a fazer exercícios, dormir bastante e procurar um terapeuta.
Em poucos meses, minha coceira tinha diminuído tanto que voltei a sair com os amigos. Comecei até a namorar um cara bacana que conheci na internet. Fui franca e contei a ele sobre a minha situação. Na hora, ele ficou surpreso. Mas se esforçou para entender e foi incrivelmente compreensivo.
Nossa vida sexual foi complicada por um tempo. Quando o transtorno não estava me incomodando, eu ficava tão aliviada que a última coisa que queria era fazer sexo. Quando ele voltava, eu não me sentia sexy e queria ficar sozinha. Meu medo era de que, se meu namorado tocasse meu corpo, minha coceira não pararia e me jogaria de novo no desconfortável ciclo de precisar de orgasmos várias e várias vezes por dia.
Por sorte, nossa relação suportou a tempestade. Estamos juntos há um ano e meio. E minha coceira é cada vez menos frequente. Atualmente, tenho orgasmos apenas uma ou duas vezes por mês para aliviar os sintomas. O resto do tempo eu faço sexo porque quero. Algumas mulheres ficam completamente curadas do transtorno da excitação genital persistente. Tenho esperança de que serei uma delas.
Fonte: Revista Nova- Ed. 455- ano 39 nº 8 Agosto 2011- pgs 86,87

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